Tornar-se mãe de UTI não é desejo para
nenhuma mãe. Muito menos opção. Sabe aquele momento em que a sua única opção é
ser forte? Então, o momento é esse. Esqueça a fragilidade do resguardo, dos
sentimentos delicados, da calmaria do pós parto com um bebê nos braços e a
curtição dos primeiros momentos. Sua vida será invadida por medo, insegurança,
dor, desespero... e você ainda terá que ser forte.
E assim me vi ali, dentro de uma UTI. Os
pontos ainda ardiam mas eu não me permitia ficar deitada, queria vê-la. Minha
filha. Nasceu e foi para uma UTI, me trouxeram registro de um bebê de um pouco
mais de 500 gramas e a observação: é muito pequena. E eu, na minha mente e na
minha mas pura inocência pensando, tudo bem, já brinquei com bonecas pequenas quando era criança, vou
aprender a cuidar dela. E assim, a pequenos passos fui vê-la, e quanto mais me
aproximava da incubadora, menos via. Cadê ela?
Ela não era miúda. Era minúscula, numa
indescritiva proporção de tamanho para a minha imaginação do que seria um bebê.
E não era só isso. Tinha fios e tubos por todo o seu corpo, sua pele era
estranha e eu recebia a informação da pediatra: Sua filha é um bebê grave.
Gravíssima. Parece que o chão se abre e você cai num abismo sem ter onde se
segurar. E ali você tem q descobrir onde encontrar sua força, pois na sua
frente tem um bebê que precisa disso para sobreviver.
Os dias passam a ser cada vez mais
longos. E sim, você vai querer ir ao lugar que mais te trará dor, todos os
dias, pelo simples fato de lá se encontrar a fonte de todo amor que pode caber
no seu peito. Serão dias terríveis, mediados por dias horríveis e às vezes
alguns dias melhores. Mas ainda assim você encontrará resquícios de alegria por
entre toda essa dor. Às vezes em algum sinal de melhora, às vezes por um rápido
sorriso. Mas acredite, você encontrará.
Foram 163 dias de ventilação
mecânica. Então, tem essa parte que você passa a aprender todos esses termos
técnicos e passa a perguntar por eles. E tem a parte que você tem que aprender que
terão dias de pioras. Terá a parte de você sofrer com a dor de outras mães. Mas
com isso você também vai aprender a dar mais valor a pequenas coisas do
dia-a-dia. A vida ganhará novo significado.
Passei 231 dias ao lado da minha
filha em uma UTI Neonatal. 231 Longos dias. Saí com minha filha nos braços. Saí
numa correria esfuziante como se tivesse deixado pra tras todos os problemas
que poderiam existir. Mas uma mãe de UTI não deixa de ser mãe de UTI na alta.
Você continua sendo mãe de UTI nas muitas consultas que virão pela frente, nos
muitos especialistas que terá que procurar, e sim, ainda terão ocorrências pela
frente. Com a diferença que você está em casa, sozinha com sua filha, e terá
que correr com ela nos braços a procura de socorro.
Se valeu a pena? Bom, lembra que não é uma opção? Ai que
entra a força, aquela que te fará lutar por cada segundo de felicidade que
poderá proporcionar a sua pequena. E ai você vai ver que os pequenos momentos
se agigantam numa imensidão que posso te dizer com toda certeza: Vai valer a
pena! Tudo! E sua alma nunca mais será pequena.
E após 4 anos fico novamente grávida. Entrei sim em
desespero no primeiro momento. Me cuidei de todas as maneiras possíveis para
fugir dos dias de UTI. Fugi, fugi, fugi... E novamente fui mãe prematura.
Quando me encontrei novamente na porta da UTI para ver minha segunda filha,
desabei. Não quis entrar, senti novamente toda dor daqueles dias, toda junta,
atrás de uma porta a qual eu tinha que abrir pois atrás dela havia outra
pequenina a minha espera. Minha filha. Não consegui abri. Voltei para o quarto,
esperando a força vir, pois ali naquele momento eu a tinha perdido. A força não
vem o tempo todo. E você vai descobri o verdadeiro significado da palavra fé!
Voltei até lá e entrei. Entrei e chorei. Porque vi outra
pequenina, tão frágil. Já perguntei por ela com o conhecimento do que era todos
esses tubos e fios ligados a seu corpo. E voltei ao dia-a-dia cuidar, rezar,
amar. Mas dessa vez não à espera desesperada da alta,
pois já sabia que a alta é apenas mais um passo. Só queria que tudo ficasse
bem.
46 dias depois saio novamente de uma UTI. Agora com reforço,
pois levei minha mais velha para busca-la. Não é fácil. Mas tê-las nos braços
me faz forte. E sei que meu braço as faz forte. Você vai perceber isso. Que
você faz seu filho forte quando o aconchega nos seus braços. E no final é só
isso que mãe e filho precisam.
Lívia Ressiguier
Mãe de Aymee e Paolla
Nossa verdade eu nunca perco a minha fé pq eu sei é eu creio que mina filha e o presente de Deus e que ela vai sai logo logo na Uti eu tenho que gradece muito a deus pela vida da minha filha pq ela é uma guerreira eu tenho muito orgulho da minha filha obrigado senhor pela essa bênção
ResponderExcluirLindo,reflexivo e consolador seu texto, também sou mãe de UTI, desde então procurou força em Deus, na minha família e em outras mães. Seu texto, assim como outros, tem me ajudado... Já são 37 dias aqui, sem previsão de alta, seguindo com fé e esperança de que dias melhores virão.
ResponderExcluirJá fui mãe de UTI. Sei como estes dias são intermináveis. Mas,quero dizer que não percam a fé (cada qual em sua religião), mantenham-se fortes, confiantes que seus bebês logo logo terão alta, irão para vossas casas e vocês viverão o maior amor deste mundo. Hoje minha filha está com 5 anos, e, é a razão da minha vida. Vibrações positivas para todas vocês ❤️
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