sábado, 22 de dezembro de 2018
O amor e a UTI
sexta-feira, 2 de novembro de 2018
Cantiga da despdida
Cantiga de despedida
I
Na tarde de uma UTI movimentada,
Sem que ninguém percebesse, em pensamento,
A mãe canta pro filho, comovida,
Um acalanto, desconsolada,
Uma canção derradeira, como um lamento,
Uma cantiga de despedida...
II
A tarde já vai indo embora, meu filho,
Se escondendo,
A noite escura querendo chegar,
Eu vejo seus olhos, cansados,
Se esquecendo,
Como se nunca mais fossem acordar...
E enquanto a tarde vai se recolhendo,
E o sol já se esquece um pouco de brilhar,
Escuta essa cantiga dedicada,
Uma cantiga pra você ficar,
A vida inteira há pela frente, filho,
Não deixa tanta vida se acabar,
É seu meu colo aquecido de carinho,
Fica comigo, vem descansar
Da dor,
Da solidão,
Do mal,
Do medo,
Da esperança que parece esfarelar,
A tarde vai indo embora, meu menino,
Fica um pouquinho mais,
Vamos brincar,
Vem crescer, andar, cair, se levantar,
Depois correr, cansar e descansar,
Se o choro chegar, a gente faz que não liga,
Me diz que não é tarde demais pra essa cantiga,
Cantiga de não morrer, canção de amar...
III
E o menino, em silencio e de partida,
Nesse momento de despedida,
Já quase sem saber como respirar,
Cantarola baixinho, à sua maneira,
Uma canção derradeira,
Que a sua mãe para sempre vai guardar:
IV
Porto seguro da minha vida,
Guarda dentro do seu coração essa alegria:
Não vai haver despedida,
Minha mãe, meu amor, meu astro guia,
Que faz minha alma fortalecida,
Guarda essa doce lembrança desse dia:
Não vai haver despedida...
Além daqui mãezinha, meu amor,
Eu vou levar você por onde for,
Porque nosso seu amor é a única saída...
Guarda essa nossa canção no seu carinho,
E de mãos dadas, nós dois, pelo caminho,
Não vai haver despedida...
V
Daí em diante nada mais se conta,
A mãe, o filho, a partida, a solidão,
Quem sabe um eco, entre monitores,
Continue ressonando um pedaço de canção,
De vida, sempre viva, rediviva,
Sem despedidas para o coração...
terça-feira, 23 de outubro de 2018
O coração materno
Uma vez há muito tempo eu tive um sonho bom
Eu viajava uma longa e definitiva viagem ao centro do coração materno
Ao coração de uma mãe de UTI
Bem lá dentro
Bem lá no fundo
E esse dia nesse sonho foi como conhecer de perto a poesia no interior do furacão
Atravessei no meu sonho cenários de dores imensas
Cenários feitos de culpas que nunca cessaram mesmo quando nunca existiram
Feitos de dias de grandes medos e ansiedades
Dias de expectativas sem fim
Eu via saudades tenebrosas nesses dias
Vontades de filhos em casa
Ausências de quase causar asfixia
Era como mergulhar num rio cinzento
Mas enquanto eu viajava por dentro desse temporal, uma luz incomum me chamou atenção
E se chamava esperança essa luz
E alimentava aquele coração por baixo da tempestade
Enquanto a viagem seguia a dor e a nebulosa ia dando lugar àquela luz de brilho incomum
Uma luz que era a presença diária ao lado do filho por mais que a dor queimasse e as pernas ameaçassem não suportar o peso da dor
Uma luz que era comprometimento
Fidelidade
Resistência
Perseverança
Merecimento
Uma luz que muitas vezes era traduzida de modo muito próprio e pouco convencional, admito, em forma de leite materno
Gotas de colostro
Alguns mililitros de leite e não mais que isso
Ou muitos copinhos numa descida das mamas que por vezes parecia não ter fim
Ah coração inesperado
Ah coração surpreendente
Eu via a vida lá dentro do coração materno
Maior que tudo
Maior que o medo
Maior que a culpa
Maior que a saudade
Vida imensa
Tão grande que quase nem a poesia conseguia descrever
Tão forte que quase a eletrocardiografia não era capaz de captar
O coração materno de uma mamãe de UTI é como uma usina de força sem tamanho capaz de mover o mundo e inspirar a criação da vida
Abençoada seja cada fibra dessa fonte que pulsa e aquece um calor que arrebata o mundo
Eu tive há muito tempo atrás um sonho bom
Eu viajava por um país que guardava por trás da dor e por dentro do medo um relicário de esperança e resignação, de movimento e ação, doação e superação...
Desse dia em diante eu nunca mais conseguia me sentir sozinho
O coração materno eu percebi que era capaz de espalhar ternura por onde passava e essa ternura sem nome e sem definição era capaz de contagiar a humanidade inteira como uma pandemia de amor incondicional
Eu tive um sonho bom que descobri que de tão bom era como se escapasse do sonho e passasse a fazer parte a partir daquele instante de cada instante dos meus dias e de cada dia da minha vida inteira
Uma vez ha muito tempo eu tive um sonho bom
E depois desse dia nunca mais me foi permitido parar de sonhar
Ao coração das mães de UTI com carinho
Luis Tavares
Eu viajava uma longa e definitiva viagem ao centro do coração materno
Ao coração de uma mãe de UTI
Bem lá dentro
Bem lá no fundo
E esse dia nesse sonho foi como conhecer de perto a poesia no interior do furacão
Atravessei no meu sonho cenários de dores imensas
Cenários feitos de culpas que nunca cessaram mesmo quando nunca existiram
Feitos de dias de grandes medos e ansiedades
Dias de expectativas sem fim
Eu via saudades tenebrosas nesses dias
Vontades de filhos em casa
Ausências de quase causar asfixia
Era como mergulhar num rio cinzento
Mas enquanto eu viajava por dentro desse temporal, uma luz incomum me chamou atenção
E se chamava esperança essa luz
E alimentava aquele coração por baixo da tempestade
Enquanto a viagem seguia a dor e a nebulosa ia dando lugar àquela luz de brilho incomum
Uma luz que era a presença diária ao lado do filho por mais que a dor queimasse e as pernas ameaçassem não suportar o peso da dor
Uma luz que era comprometimento
Fidelidade
Resistência
Perseverança
Merecimento
Uma luz que muitas vezes era traduzida de modo muito próprio e pouco convencional, admito, em forma de leite materno
Gotas de colostro
Alguns mililitros de leite e não mais que isso
Ou muitos copinhos numa descida das mamas que por vezes parecia não ter fim
Ah coração inesperado
Ah coração surpreendente
Eu via a vida lá dentro do coração materno
Maior que tudo
Maior que o medo
Maior que a culpa
Maior que a saudade
Vida imensa
Tão grande que quase nem a poesia conseguia descrever
Tão forte que quase a eletrocardiografia não era capaz de captar
O coração materno de uma mamãe de UTI é como uma usina de força sem tamanho capaz de mover o mundo e inspirar a criação da vida
Abençoada seja cada fibra dessa fonte que pulsa e aquece um calor que arrebata o mundo
Eu tive há muito tempo atrás um sonho bom
Eu viajava por um país que guardava por trás da dor e por dentro do medo um relicário de esperança e resignação, de movimento e ação, doação e superação...
Desse dia em diante eu nunca mais conseguia me sentir sozinho
O coração materno eu percebi que era capaz de espalhar ternura por onde passava e essa ternura sem nome e sem definição era capaz de contagiar a humanidade inteira como uma pandemia de amor incondicional
Eu tive um sonho bom que descobri que de tão bom era como se escapasse do sonho e passasse a fazer parte a partir daquele instante de cada instante dos meus dias e de cada dia da minha vida inteira
Uma vez ha muito tempo eu tive um sonho bom
E depois desse dia nunca mais me foi permitido parar de sonhar
Ao coração das mães de UTI com carinho
Luis Tavares
sábado, 15 de setembro de 2018
O leite materno não é o mesmo
Para Dalton e Rose, por ocasião de sua visita a Campos em 12 de setembro de 2018
O leite materno não é o mesmo.
Decorridos os dez primeiros minutos da mamada, ele já é outro.
Da mesma forma não é o mesmo depois de uma semana do que ele era nas primeiras horas de vida, e após a segunda semana também não é o mesmo que foi no quinto dia.
Entre as mães prematuras, não é o mesmo que é na mãe de 28 semanas do que é na mãe de 34.
O leite materno não é o mesmo na mãe medicada que é na mãe sem uso de medicamento algum.
O das mães vegetarianas não é o mesmo daquele das mães que adoram um churrasco.
Não é o mesmo nas mães senegalesas que é nas russas, nem nas brasileiras nordestinas que é nas mães quase compatriotas do alentejo.
O que habita a mãe apoiada não é o mesmo que existe na mãe despedaçada, na abandonada ou na mãe mergulhada em despreparo ou dor.
O leite materno da mãe resfriada não é o mesmo que há na mãe saudável, nem é o mesmo o leite das mães de colonias de pescadores e o leite das mães dos pampas gaúchos.
Não é o mesmo o leite após o quinto mes de amamentação, após o quinto filho, após o quinto copo de cerveja, a quinta hora de sono ou o quinto gol da Alemanha contra o Brasil.
O leite materno não se repete nunca. Nunca é o mesmo entre uma mãe e outra. Nunca é o mesmo entre momentos diferentes de uma mesma mãe.
Não é o mesmo na dor o que é na alegria.
Não é o mesmo na guerra o que é na paz.
Na ditadura, nos estados de exceção, na opressão do jugo armado não é o mesmo que é no estado democrático de direito.
Não é o mesmo num presidio o que é numa praça publica, num Banco de Leite ou numa UTI Neonatal.
Quase como uma representação arquetípica de um camaleão, por tão diverso que é, tão sem replica, unico a cada instante, as vezes me pergunto por que motivo damos a todas as suas configurações o mesmo nome comum de leite materno.
Talvez porque, como mães que igualmente nunca se repetem, não se conheça nada nessa vida tão completo, absoluto e mágico e tão exageradamente farto de poder.
O leite materno, que não se repete e que nunca é o mesmo, é o pedacinho que nos é dado conhecer da quase indecifrável poesia de Deus.
domingo, 27 de maio de 2018
Carta à uma mãe de UTI
Tornar-se mãe de UTI não é desejo para
nenhuma mãe. Muito menos opção. Sabe aquele momento em que a sua única opção é
ser forte? Então, o momento é esse. Esqueça a fragilidade do resguardo, dos
sentimentos delicados, da calmaria do pós parto com um bebê nos braços e a
curtição dos primeiros momentos. Sua vida será invadida por medo, insegurança,
dor, desespero... e você ainda terá que ser forte.
E assim me vi ali, dentro de uma UTI. Os
pontos ainda ardiam mas eu não me permitia ficar deitada, queria vê-la. Minha
filha. Nasceu e foi para uma UTI, me trouxeram registro de um bebê de um pouco
mais de 500 gramas e a observação: é muito pequena. E eu, na minha mente e na
minha mas pura inocência pensando, tudo bem, já brinquei com bonecas pequenas quando era criança, vou
aprender a cuidar dela. E assim, a pequenos passos fui vê-la, e quanto mais me
aproximava da incubadora, menos via. Cadê ela?
Ela não era miúda. Era minúscula, numa
indescritiva proporção de tamanho para a minha imaginação do que seria um bebê.
E não era só isso. Tinha fios e tubos por todo o seu corpo, sua pele era
estranha e eu recebia a informação da pediatra: Sua filha é um bebê grave.
Gravíssima. Parece que o chão se abre e você cai num abismo sem ter onde se
segurar. E ali você tem q descobrir onde encontrar sua força, pois na sua
frente tem um bebê que precisa disso para sobreviver.
Os dias passam a ser cada vez mais
longos. E sim, você vai querer ir ao lugar que mais te trará dor, todos os
dias, pelo simples fato de lá se encontrar a fonte de todo amor que pode caber
no seu peito. Serão dias terríveis, mediados por dias horríveis e às vezes
alguns dias melhores. Mas ainda assim você encontrará resquícios de alegria por
entre toda essa dor. Às vezes em algum sinal de melhora, às vezes por um rápido
sorriso. Mas acredite, você encontrará.
Foram 163 dias de ventilação
mecânica. Então, tem essa parte que você passa a aprender todos esses termos
técnicos e passa a perguntar por eles. E tem a parte que você tem que aprender que
terão dias de pioras. Terá a parte de você sofrer com a dor de outras mães. Mas
com isso você também vai aprender a dar mais valor a pequenas coisas do
dia-a-dia. A vida ganhará novo significado.
Passei 231 dias ao lado da minha
filha em uma UTI Neonatal. 231 Longos dias. Saí com minha filha nos braços. Saí
numa correria esfuziante como se tivesse deixado pra tras todos os problemas
que poderiam existir. Mas uma mãe de UTI não deixa de ser mãe de UTI na alta.
Você continua sendo mãe de UTI nas muitas consultas que virão pela frente, nos
muitos especialistas que terá que procurar, e sim, ainda terão ocorrências pela
frente. Com a diferença que você está em casa, sozinha com sua filha, e terá
que correr com ela nos braços a procura de socorro.
Se valeu a pena? Bom, lembra que não é uma opção? Ai que
entra a força, aquela que te fará lutar por cada segundo de felicidade que
poderá proporcionar a sua pequena. E ai você vai ver que os pequenos momentos
se agigantam numa imensidão que posso te dizer com toda certeza: Vai valer a
pena! Tudo! E sua alma nunca mais será pequena.
E após 4 anos fico novamente grávida. Entrei sim em
desespero no primeiro momento. Me cuidei de todas as maneiras possíveis para
fugir dos dias de UTI. Fugi, fugi, fugi... E novamente fui mãe prematura.
Quando me encontrei novamente na porta da UTI para ver minha segunda filha,
desabei. Não quis entrar, senti novamente toda dor daqueles dias, toda junta,
atrás de uma porta a qual eu tinha que abrir pois atrás dela havia outra
pequenina a minha espera. Minha filha. Não consegui abri. Voltei para o quarto,
esperando a força vir, pois ali naquele momento eu a tinha perdido. A força não
vem o tempo todo. E você vai descobri o verdadeiro significado da palavra fé!
Voltei até lá e entrei. Entrei e chorei. Porque vi outra
pequenina, tão frágil. Já perguntei por ela com o conhecimento do que era todos
esses tubos e fios ligados a seu corpo. E voltei ao dia-a-dia cuidar, rezar,
amar. Mas dessa vez não à espera desesperada da alta,
pois já sabia que a alta é apenas mais um passo. Só queria que tudo ficasse
bem.
46 dias depois saio novamente de uma UTI. Agora com reforço,
pois levei minha mais velha para busca-la. Não é fácil. Mas tê-las nos braços
me faz forte. E sei que meu braço as faz forte. Você vai perceber isso. Que
você faz seu filho forte quando o aconchega nos seus braços. E no final é só
isso que mãe e filho precisam.
Lívia Ressiguier
Mãe de Aymee e Paolla
quinta-feira, 5 de abril de 2018
Terra de Gigantes
Gigantes.
Gigantes são figuras mitológicas de grande tamanho.
Gigantes são personagens dotados de grande força.
Gigantes são corajosos.
Gigantes são resistentes.
Gigantes enfrentam grandes perigos e não se abatem com qualquer enfrentamento.
A história é prodiga de seus gigantes:
Porfirio, Ticio, Tifão, Gerião, Aloidas, Agrios e Golias.
Gigantes com varios metros de altura.
Gigantes com muitos quilos de força.
Mas recentemente temos observado a presença em nosso meio de uma outra especia de gigante cada vez mais frequente.
Da mesma forma que os primeiros, esses novos gigantes são dotados de grande força.
Incomparável a sua coragem.
Inconfundível sua resistência.
Sua capacidade de enfrentamento das adversidades da vida parece não ter fim.
Esses novos gigantes não se abatem fácil diante das intempéries.
segunda-feira, 19 de março de 2018
O tamanho do estomago de um bebê
Um bebe nascido no tempo adequado pode receber de 5 a 7 ml de leite em seu estomago (que é do tamanho de uma cereja) no primeiro dia de vida.
No terceiro dia, seu estomago é do tamanho de uma noz e cabe de 22 a 27 ml de leite.
Com uma semana tem o tamanho de uma ameixa e cabem nele 45 a 60 ml de leite.
Com um mês, seu estomago do tamanho de um ovo é capaz de receber de 80 a 150 ml de leite.
Mas essas contas são as de um bebê a termo.
Um prematurinho que nasce com 2000 gramas ou outro que nasce com 1000 gramas mais ou menos tem capacidades menores que essas.
Mães prematuras que se assustam com uma retirada de 5 ou de 10 ml não fazem ideia do valor dessa quantidade de leite pro seu bebê
10 ml de leite materno é um rio.
10 ml de leite materno é um mar.
E 10 ml não é a quantidade de leite que a mãe conseguiu produzir.
10 ml é a quantidade de leite que a mãe conseguiu fazer descer e poder contar.
O leite produzido na mama, lá dentro, desce sempre quando a mamãe está em paz, está calma, está bem.
10 ml a partir desta data não mais será considerada uma quantidade menor, mas muito diferente disso, 10 ml desta data em diante será conhecido como um mar de amor...
10 ml de leite materno é um oceano de amor,
10 ml de leite materno é carinho e proteção,O bebê que recebe esses 10 ml é um vencedor,
A mamãe entrega nesses 10 ml o coração ...
Porque 10 ml de leite materno tem tanto valor
Que é certo afirmar: não há comparação.
Nada é mais forte nem tem mais sabor
Que 10 ml de leite materno, ah não ...
Então é bom saber que quantidade
Não é sinônimo de qualidade,
Por isso as vezes 10 ml é um mar,
Um mar de amor enorme, os 10 ml,
Amor visivelmente a flor da pele...
Ah quanto amor tem esse começar...
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