“Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora, nasce a primavera do lado de dentro. Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora, continuam as fontes a borbulhar dentro do coração”,
Rubem Alves
Hoje vamos conhecer a história de Maria Vitória e de seus pais Amanda e Rogerio.
Há pouco mais de um ano Maria nasceu de parto prematuro extremo.
Do mesmo modo como acontece com todas as nossas mães, orientamos a Amanda que retirasse seu leite diariamente para oferecer a sua pequena Maria que naqueles primeiros instantes não sugaria no seio mas poderia se alimentar com o leite materno oferecido por sondinha.
Assim foi feito.
Amanda, mesmo morando longe, em outro município distante mais de 50 quilômetros de Campos, comparecia diariamente à UTI sempre acompanhada de Rogerio para que pudessem acompanhar sua filha e Amanda pusesse retirar seu leite, muito importante para a bebê.
Foi uma longa e lenta e exaustiva jornada, mas impressionava toda equipe o comportamento colaborativo e gentil dos pais durante todo o processo.
Amanda e Rogerio atravessavam 50 quilômetros diariamente para estar perto de sua bebê e para oferecerem carinho e leite materno.
E não era pouco leite.
Era leite do tamanho do amor de seus pais pela pequena e da gratidão da pequena por seus pais.
O início, como qualquer início, foi previsível.
Amanda e Rogerio compareciam diariamente à UTI, Amanda tirava seu leite que ia para a pequena Maria e essa cena se repetia várias vezes e sempre diariamente.
O tempo, imperdoável, foi seguindo seu rumo.
Em sua longa jornada na UTI, na sua luta para sobreviver, Maria apresentou graves complicações neurológicas, respiratórias e infecciosas que a mantiveram sob cuidado da UTI Neonatal por vários meses.
Estava cada vez mais evidente que a pequena Maria não sugaria no peito da Amanda como resultado de sua condição clinica delicada.
Mas Amanda, aparentemente alheia a essa improvável possibilidade, seguia marcando horários na sala de coleta do leite e fazendo pela Maria o que estava a seu alcance: oferecendo seu leite.
Eram ordenhas diárias de grande volume.
Várias vezes por dia.
Incansáveis.
Dedicação incondicional.
Lembro me que uma vez Amanda me procurou dizendo que sua produção de leite estava diminuindo. Queria ajuda. Um medicamento que melhorasse sua produção. Nessa época Maria já contava com 4 meses. Já havia sofrido cirurgias de alívio para a lesão neurológica. Fazia crises. Ficava quase o tempo todo sob assistência respiratória. Mas antes que meus raciocínios miseráveis me questionassem por que Amanda ainda se esforçasse para oferecer seu leite a um bebê com tantas outras necessidades vitais, felizmente meu coração escutou seu coração materno e sem questionar ajudou aquela mãe extremada a seguir seu caminho de doar se em leite ainda por mais alguns meses para aquele pedaço gigante de seu coração que cada um de nos chamávamos de Maria.
Poderíamos aqui traduzir em números quantos meses duraram essas coletas e quantos litros de leite Amanda retirou para sua pequena Maria, sempre apoiada pelo Rogerio.
Mas traduzir em números seria muito pouco para entender o que aconteceu entre Maria e Amanda e Rogerio.
E o que aconteceu foi que tecnicamente Amanda percebeu desde muito cedo que sua pequena Maria não sugaria no peito.
Amanda percebeu desde muito cedo que a condição clinica de Maria era extremamente grave, risco de vida eminente.
Amanda percebeu desde cedo que as possibilidades de melhora do quadro sempre se mostravam muito remotas.
Mas Amanda, mesmo sem primavera do lado de fora, mesmo cercada de seca e de incerteza, em nenhum momento deixou de viver uma linda e exuberante primavera em seu coração.
Amanda e Rogerio foram pais escolhidos a dedo pelas bênçãos de Deus para cuidar da pequena Maria.
O que se seguiu é que Maria recebeu leite materno por muitos meses, e com leite materno, carinho, imunidade, proteínas, força e desenvolvimento.
Amanda e Rogerio são preciosos símbolos de pais que, mesmo quando não há motivos para mostrarem-se otimistas devido às condições clinicas graves de sua filha, provam que a esperança sempre tem terreno para florescer.
Hoje Maria está em casa.
Hoje Rogerio e Amanda guardam a paz no coração por estarem sendo o melhor para sua bebê, sua família.
A história de Rogerio, Amanda e Maria é um exemplo de dedicação e possibilidade.
É um exemplo de presença e força da esperança mesmo quando o otimismo não encontra forças para subsistir.
Pedi a querida Amanda para contar aqui sua história.
Com a delicadeza e a serenidade de sempre, Amanda aceitou ter sua história divulgada para dar força a outras Amandas, muitas vezes tristes, muitas vezes sem motivos para acreditar, muitas vezes cansadas e extenuadas de uma UTI que parece sugar nossas forças e esmorecer nossa fé.
Que a história de Amanda, Rogerio e Maria possa alimentar esperanças em nossos corações.
Dedico esse relato à pequena Maria e aos seus pais.
E a nossas mãezinhas amadas, seus pares e seus bebês.
Deus esteja conosco hoje e sempre.
Luis Tavares
UTI Neonatal Nicola Albano
22 de outubro de 2017
Rubem Alves
Hoje vamos conhecer a história de Maria Vitória e de seus pais Amanda e Rogerio.
Há pouco mais de um ano Maria nasceu de parto prematuro extremo.
Do mesmo modo como acontece com todas as nossas mães, orientamos a Amanda que retirasse seu leite diariamente para oferecer a sua pequena Maria que naqueles primeiros instantes não sugaria no seio mas poderia se alimentar com o leite materno oferecido por sondinha.
Assim foi feito.
Amanda, mesmo morando longe, em outro município distante mais de 50 quilômetros de Campos, comparecia diariamente à UTI sempre acompanhada de Rogerio para que pudessem acompanhar sua filha e Amanda pusesse retirar seu leite, muito importante para a bebê.
Foi uma longa e lenta e exaustiva jornada, mas impressionava toda equipe o comportamento colaborativo e gentil dos pais durante todo o processo.
Amanda e Rogerio atravessavam 50 quilômetros diariamente para estar perto de sua bebê e para oferecerem carinho e leite materno.
E não era pouco leite.
Era leite do tamanho do amor de seus pais pela pequena e da gratidão da pequena por seus pais.
O início, como qualquer início, foi previsível.
Amanda e Rogerio compareciam diariamente à UTI, Amanda tirava seu leite que ia para a pequena Maria e essa cena se repetia várias vezes e sempre diariamente.
O tempo, imperdoável, foi seguindo seu rumo.
Em sua longa jornada na UTI, na sua luta para sobreviver, Maria apresentou graves complicações neurológicas, respiratórias e infecciosas que a mantiveram sob cuidado da UTI Neonatal por vários meses.
Estava cada vez mais evidente que a pequena Maria não sugaria no peito da Amanda como resultado de sua condição clinica delicada.
Mas Amanda, aparentemente alheia a essa improvável possibilidade, seguia marcando horários na sala de coleta do leite e fazendo pela Maria o que estava a seu alcance: oferecendo seu leite.
Eram ordenhas diárias de grande volume.
Várias vezes por dia.
Incansáveis.
Dedicação incondicional.
Lembro me que uma vez Amanda me procurou dizendo que sua produção de leite estava diminuindo. Queria ajuda. Um medicamento que melhorasse sua produção. Nessa época Maria já contava com 4 meses. Já havia sofrido cirurgias de alívio para a lesão neurológica. Fazia crises. Ficava quase o tempo todo sob assistência respiratória. Mas antes que meus raciocínios miseráveis me questionassem por que Amanda ainda se esforçasse para oferecer seu leite a um bebê com tantas outras necessidades vitais, felizmente meu coração escutou seu coração materno e sem questionar ajudou aquela mãe extremada a seguir seu caminho de doar se em leite ainda por mais alguns meses para aquele pedaço gigante de seu coração que cada um de nos chamávamos de Maria.
Poderíamos aqui traduzir em números quantos meses duraram essas coletas e quantos litros de leite Amanda retirou para sua pequena Maria, sempre apoiada pelo Rogerio.
Mas traduzir em números seria muito pouco para entender o que aconteceu entre Maria e Amanda e Rogerio.
E o que aconteceu foi que tecnicamente Amanda percebeu desde muito cedo que sua pequena Maria não sugaria no peito.
Amanda percebeu desde muito cedo que a condição clinica de Maria era extremamente grave, risco de vida eminente.
Amanda percebeu desde cedo que as possibilidades de melhora do quadro sempre se mostravam muito remotas.
Mas Amanda, mesmo sem primavera do lado de fora, mesmo cercada de seca e de incerteza, em nenhum momento deixou de viver uma linda e exuberante primavera em seu coração.
Amanda e Rogerio foram pais escolhidos a dedo pelas bênçãos de Deus para cuidar da pequena Maria.
O que se seguiu é que Maria recebeu leite materno por muitos meses, e com leite materno, carinho, imunidade, proteínas, força e desenvolvimento.
Amanda e Rogerio são preciosos símbolos de pais que, mesmo quando não há motivos para mostrarem-se otimistas devido às condições clinicas graves de sua filha, provam que a esperança sempre tem terreno para florescer.
Hoje Maria está em casa.
Hoje Rogerio e Amanda guardam a paz no coração por estarem sendo o melhor para sua bebê, sua família.
A história de Rogerio, Amanda e Maria é um exemplo de dedicação e possibilidade.
É um exemplo de presença e força da esperança mesmo quando o otimismo não encontra forças para subsistir.
Pedi a querida Amanda para contar aqui sua história.
Com a delicadeza e a serenidade de sempre, Amanda aceitou ter sua história divulgada para dar força a outras Amandas, muitas vezes tristes, muitas vezes sem motivos para acreditar, muitas vezes cansadas e extenuadas de uma UTI que parece sugar nossas forças e esmorecer nossa fé.
Que a história de Amanda, Rogerio e Maria possa alimentar esperanças em nossos corações.
Dedico esse relato à pequena Maria e aos seus pais.
E a nossas mãezinhas amadas, seus pares e seus bebês.
Deus esteja conosco hoje e sempre.
Luis Tavares
UTI Neonatal Nicola Albano
22 de outubro de 2017
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