terça-feira, 16 de abril de 2013

Invisível.
Ela não está nos livros de neonatologia.
Nem nas rotinas das Unidades Neonatais.
Seu nome não consta nos prontuários de atendimento de seus bebes, nem sua dor, nem suas frustrações, expectativas, esperança ou fé.
É ignorada solenemente pelas Leis de proteção trabalhista à mulher que tem um filho.
Sua dor é intima, represada, sufocada e asfixiada em seu próprio coração.
Como disse uma a canção na voz de Chico Buarque: sua dor não sai no jornal.
A mulher invisível.
Quando segue a caminho da maternidade para sofrer um nascimento prematuro, ela tem uma identidade e visibilidade flagrante: todas as condutas serão adotadas por toda uma equipe e tomadas em torno dela e do do nascimento de seu bebê: recebe tratamento prioritario, multiprofissional, toda tecnologia é acionada em seu nome e em seu beneficio.
O momento do nascimento do bebê coincide com o inicio de sua invisibilidade.
As atenções são voltadas de tal maneira para o seu filho que a mãe prematura a partir desse momento
torna-se cada vez mais e a cada dia uma mulher invisível.
Ou quase.
Submete-se às normas da Unidade mas reconhece que essas normas não dizem respeito à ela, mas a seu filho.
Exige-se, como se fosse simples assim, que ela esforce-se por manter a lactação, como se o vulcão por onde caminha seu coração fosse planicie tranquila onde sopra a brisa e o aroma leve
Cobra-se dela força pra suportar, coragem pra suportar, aceitação, resignação e obediencia... pra suportar...
A mãe prematura.
A mulher invisível.
Uma invisibilidade que necessita ceder, porque cruel.
Uma invisibilidade que necessita curar, porque lesiva.
Porque um erro.
Porque o reflexo de uma negligencia comportamental e clinica em relação à mulher.
Sua invisibilidade é o adubo de sua dor.
A mulher invisível que necessita tornar visíveis sua presença e seu conteúdo, tomando parte nas rotinas das Unidades, nos prontuários de seus filhos, nos livros de pediatria, na legislação que deveria protege-la...
A mulher.
Invisível por omissão e descaso, não por essência.
Porque não são invisíveis sua dor, sua capacidade de superação, sua força, sua fé...
A mulher.
Que um dia, quando o a ciência, as leis, os estudiosos e a sociedade acordarem, deverão se curvar diante dela e se redimirem de décadas de negligencia.
Para que a sua invisibilidade não seja a ferida mortal na honra da espécie humana.