quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Os Bancos de Leite Humano

Os Bancos de Leite Humano não são bancos de leite humano, de coleta e preservação de leite humano.
Ou pelo menos não são como os Bancos de Sangue, os Bancos de Semen, os Bancos de Dados...
Ou os Bancos comerciais do sistema financeiro...
Esses outros coletam e conservam seus produtos...
O Banco de leite também, mas não só.
E não só mesmo...
Se a gente for contar o ano de 2012, a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, a maior do mundo, coletou quase cento e setenta mil litros de leite de mais de cento e oitenta mil doadoras, beneficiando mais de cento e setenta mil bebezinhos em Unidades Neonatais...
Um numero impressionante, não é mesmo?
Pois é.
Mas nem de perto traduz o significado de um Banco de Leite Humano.
Cento e setenta mil litros de leite coletados e armazenados, o maior volume do mundo em leite humano, não chegam perto do que foram os mais de um milhão e novecentos mil atendimentos realizados pela rede...
Um milhão e novecentos mil atendimentos, voce leu isso?
Dez vezes mais que a quantidade de leite coletado.
Atendimentos?
Sim.
Ajuda para amamentar, ordenhar, posicionar, produzir mais leite, relactar (voltar a produzir quando a produção já cessou)...
Quase dois milhões de atendimentos realizados em 2012.
Desses, pouco mais de um mil
h
ão e trezentos mil foram atendimentos individuais, olho no o
l
ho, face a face, próximo, oportuno, como manda a regra...
Quase trezentos e c
i
n
q
u
enta mil foram atendimentos em grupo, quando a dificuldade de um encontra o caminho de outro e, como na musica, com tantos tristes querendo juntos, toda tristeza se acaba...
Atendimentos em grupo são uma experiencia pratica de superação e resultados, oportunidades que os Bancos de Leite Humano possibilitam com muita qualidade...
Mas nem é só isso...
Mais de duzentos e trinta mil visitas domiciliares foram realizadas pela rede no Brasil, o que significa que mais de dez por cento dos quase dois milhões de atendimentos foram até o usuário, numa prova definitiva de apoio próximo e oportuno...
O Banco de Leite Humano nem deveria se chamar Banco de Leite Humano, porque das coisas que ele faz, e faz muitas, a coisa que ele menos faz é coletar e guardar leite.
O Banco de Leite Humano devi
a
 se chamar Centro de Apoio à Amamentação, ou algo assim.
Misturado com as pipetas e as chamas de gás e placas de cultura bacteriológicas, o Banco de Leite Humano, em toda sua rede de 213 Bancos e 120 Postos de Coleta, totalizando 333 Unidades de Apoio e captação de leite faz assim muito mais que coletar e estocar e distribuir leite. Não se deixe enganar pelo seu aspecto laboratorial. O Banco de leite humano é humano como o colo materno e gera delicadeza e apoio à vida...
Uma mulher com dificuldades para amamentar não precisa ficar à merce de informações confusas e muitas vezes desencontradas, de diversas origens por ai. Um Banco de Leite é seu apoio e resguardo, guarida e fonte sincera de cuidado efetivo.
Cada uma das pessoas que trabalham ali tem formação suficiente para oferecer a essa mulher apoio seguro e orientação e acompanhamento próximos.
Faz assim:
Esquece tudo que você sabia sobre Banco de leite e pense:
O Banco de Leite é um lugar onde a mulher que amamenta, a que quer amamentar, a que não pode amamentar e a que quer apoiar a amamentação encontra apoio e guarida, de modo próximo, continuo e oportuno.
Um Banco de Leite é uma usina de tudo, e, acredite, até coleta, armazena e conserva leite humano, mas isso, sem duvida, é a menos coisa grande que ele faz... 

terça-feira, 16 de abril de 2013

Invisível.
Ela não está nos livros de neonatologia.
Nem nas rotinas das Unidades Neonatais.
Seu nome não consta nos prontuários de atendimento de seus bebes, nem sua dor, nem suas frustrações, expectativas, esperança ou fé.
É ignorada solenemente pelas Leis de proteção trabalhista à mulher que tem um filho.
Sua dor é intima, represada, sufocada e asfixiada em seu próprio coração.
Como disse uma a canção na voz de Chico Buarque: sua dor não sai no jornal.
A mulher invisível.
Quando segue a caminho da maternidade para sofrer um nascimento prematuro, ela tem uma identidade e visibilidade flagrante: todas as condutas serão adotadas por toda uma equipe e tomadas em torno dela e do do nascimento de seu bebê: recebe tratamento prioritario, multiprofissional, toda tecnologia é acionada em seu nome e em seu beneficio.
O momento do nascimento do bebê coincide com o inicio de sua invisibilidade.
As atenções são voltadas de tal maneira para o seu filho que a mãe prematura a partir desse momento
torna-se cada vez mais e a cada dia uma mulher invisível.
Ou quase.
Submete-se às normas da Unidade mas reconhece que essas normas não dizem respeito à ela, mas a seu filho.
Exige-se, como se fosse simples assim, que ela esforce-se por manter a lactação, como se o vulcão por onde caminha seu coração fosse planicie tranquila onde sopra a brisa e o aroma leve
Cobra-se dela força pra suportar, coragem pra suportar, aceitação, resignação e obediencia... pra suportar...
A mãe prematura.
A mulher invisível.
Uma invisibilidade que necessita ceder, porque cruel.
Uma invisibilidade que necessita curar, porque lesiva.
Porque um erro.
Porque o reflexo de uma negligencia comportamental e clinica em relação à mulher.
Sua invisibilidade é o adubo de sua dor.
A mulher invisível que necessita tornar visíveis sua presença e seu conteúdo, tomando parte nas rotinas das Unidades, nos prontuários de seus filhos, nos livros de pediatria, na legislação que deveria protege-la...
A mulher.
Invisível por omissão e descaso, não por essência.
Porque não são invisíveis sua dor, sua capacidade de superação, sua força, sua fé...
A mulher.
Que um dia, quando o a ciência, as leis, os estudiosos e a sociedade acordarem, deverão se curvar diante dela e se redimirem de décadas de negligencia.
Para que a sua invisibilidade não seja a ferida mortal na honra da espécie humana.